terça-feira, novembro 13, 2012

A primeira greve em Portugal foi em Lisboa em 1849

Nos números 13 e 14 do Conde Barão funcionou a empresa
que resultou da fusão, em 1929, das fábricas Collares e Vulcano.
A primeira greve em Portugal aconteceu em Setembro de 1849, em Lisboa, envolvendo quatro fábricas de fundição e serralharia industrial situadas Nas imediações da Rua da Boavista e do Largo do Conde Barão. Ter-se-ão verificado anteriores conflitos laborais mas a primeira greve, que tecnicamente merece esse nome, foi a de 1849.
Os operários das fábricas José Pedro Collares e Filhos, Phenix, Vulcano e João Bachelay, todas elas situadas na zona industrial localizada entre o Tejo, a Rua da Boavista e o Largo do Conde Barão, fizeram greve em luta contra…
o serão.
Naqueles tempos, o horário de trabalho compreendia um serão no Outono e Inverno, quando os dias eram mais curtos. Os operários exigiam trabalhar apenas de sol a sol, todo ano, sem diminuição de salário pelo facto de não trabalharem ao serão.
O analista social José Barreto * conta que, “na tarde do dia 10 de Setembro, uma segunda-feira, várias dezenas de ferreiros, serralheiros e torneiros da fábrica Vulcano abandonaram o trabalho à hora do começo do serão, recusando-se a trabalhar até às 8 da noite. Foram para a rua e percorreram o caminho até à fábrica Phenix gritando que não faziam serão e chamando os seus colegas que ainda se encontravam a trabalhar.” Os operários das duas fábricas juntaram-se a caminho das outras duas. Mas, os patrões destas - Collares e Filhos e Bachelay - tinham entretanto chamado a Polícia para dispersar os manifestantes. Naquele dia as coisas ficaram por ali. Mas no dia 11 de Setembro, ao tocarem as Trindades, as fábricas ficaram desertas, sem ninguém para fazer serão.
No local há vestígios de arqueologia industrial.
A primeira notícia sobre o casdo saiu no jornal Revolução de Setembro no dia 12. O jornal explicava que os operários se recusavam a fazer serão e pretendiam o pagamento por inteiro como se trabalhassem as horas que trabalhavam de Verão. Por sinal, os tipógrafos que compunham este jornal vieram a protagonizar a segunda greve registada em Portugal.
A greve prosseguiu e o trabalho só foi retomado quando os patrões das quatro fábricas se comprometeram a satisfazer as reivindicações dos grevistas, o que aconteceu a 20 de Setembro. O Patriota transcrevia nas suas páginas o regulamento interno das fábricas que, no dizer do jornal, era, “com pouca diferença, o que os próprios operários pediam”. Mas em 1872, os metalúrgicos lisboetas voltaram a lutar contra os serões que, entretanto, tinham sido restabelecidos.
* José Barreto, in Análise Social, vol. XVII (67-68), 1981-3.°-4.°, 479-503. Ler aqui

Texto e fotos Beco das Barrelas / Direitos reservados

1 comentário:

  1. Talvez tenha interesse em incluir aqui fotografias dum almofariz, em ferro fundido, assinado "João Bachelay"

    ResponderEliminar