terça-feira, março 19, 2013

A Madragoa não tem certidão de idade

Roupa à janela, bandeiras de um bairro
Ninguém com absoluta certeza consegue dizer a identidade e a data do nascimento do bairro da Madragoa. Nem tão pouco estão definidos com inegável rigor os limites geográficos do bairro.
O nome pode vir de Mandrágora - como especulam uns - mas é bem provável que tenha origem nas Madres de Goa - cujo convento existiu no bairro onde ainda hoje existem os conventos das Bernardas, do Quelhas, das Trinas do Mocambo, das Inglesinhas. Pelo menos, a Rua das Madres ainda lá está e é como que uma linha de terra do bairro da Madragoa.


Pintura mural: o elogio
da limpeza urbana dá as boas-vindas
na Madragoa

Bairro pré e pós Pombalino, o espaço que a Madragoa ocupa foi por anos e séculos designado por Bairro do Mocambo. Era assim no século XV e XVI, um bairro ocupado essencialmente por negros. A arquitetura pombalina deixou a sua marca profunda no bairro, onde ainda hoje o visitante se cruza tanto com modestos pátios e habitações populares como com belíssimos palácios e palacetes.
 
Convento das Bernardas /
Museu da Marioneta
  
 
Mas já no século XX, numa publicação respeitável como é o Guia de Portugal (primeira edição da Biblioteca Nacional de Lisboa, 1924, mais recente a da Fundação Calouste Gulbenkian, 1991), a designação de Bairro do Mocambo era ainda usada, embora remendada com a referência “também conhecido por Bairro da Madragoa”.
 
E o Guia - no seu I Volume, Generalidades, Lisboa e Arredores - assinalava que por alturas da publicação original (1924) “o bairro era habitado, principalmente, por varinas, gentes dos cais, descarregadores e vendedores de pescado”, que davam ao bairro “uma pitoresca cor local”. Diz-se mesmo que a origem dos emigrantes, de Aveiro e particularmente de Ovar, deram nomes às varinas da Madragoa, por linha direta das ovarinas de Ovar.
 
Varina da Madragoa

Bairro popular, ligado ao mar, ao Tejo e ao fado, a Madragoa é um bairro carregado de história e de património que vale a pena conhecer.
 

O Tejo como horizonte




E dizem os versos de Jorge Rosa, para a música de José Fontes Rocha e a voz de Maria da Fé:
 
A Madragoa que canta desde menina
Cantigas que o mar ensina
Com o mar dança também.
Doa a quem doa, é dos bairros a rainha
E a coisa mais alfacinha
De quantas Lisboa tem.

Texto e Fotos Beco das Barrelas. D.R.

Sem comentários:

Enviar um comentário