sexta-feira, maio 31, 2013

Babel do Chiado


O Chiado, a “aldeia de Pessoa”, onde o poeta nasceu (Largo de São Carlos) e foi batizado (Basílica dos Mártires), onde se ouve o “sino da aldeia”, o “Chiado Janota”, de Ary dos Santos, mas já antes o Chiado onde o janota Eça de Queiroz punha em ação personagens de “Os Maias” - Dâmaso Salcede num “coupé lançado a trote", Carlos, de “Os Maias”, a descer para o Alecrim… O Chiado de Cesário Verde e de “O Sentimento dum Ocidental”.
 



Pois o Chiado é agora eminentemente turístico, ali se cruzam idiomas como numa Babel, e é também um palco aberto para quem tenha o que mostrar aos outros do seu talento. Tanto atuam pequenas bandas de música como um “trôpego arlequim braceja numas andas”: outra vez Cesário. Quanto à violeteira das “tranças pretas”, “deixou saudades”.

O Chiado é um constante rio de gente, que por vezes encalha nas esplanadas da Brasileira ou da Benard. É um novo centro da cidade que junta um bairro e cenários típicos com um comércio, do tradicional ao moderno e às grandes marcas, passando pelas livrarias, os cafés, o inesperado.  

 
Mal sabem os visitantes quanta História carrega cada pedra do Chiado.


 

Texto e Fotos Beco das Barrelas / D.R.

segunda-feira, maio 27, 2013

Pobres da Cidade Incerta

    "Dó da miséria!... Compaixão de mim!...
E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso,
Pede-me esmola um homenzinho idoso,
Meu velho professor nas aulas de Latim!"
Cesário Verde, O Sentimento dum Ocidental
 
O diretor do Observatório de Luta Contra a Pobreza na cidade de Lisboa diz que não se sabe quantos pobres vivem na capital portuguesa, porque, considera, “nunca houve vontade política” para calcular a pobreza a este nível territorial.
O primeiro Barómetro do Observatório de Luta Contra a Pobreza na Cidade de Lisboa, agora publicado em livro, mostra que, sem o apoio das instituições locais, as populações pobres que residem na capital viveriam “uma situação catastrófica”.
 
O livro intitula-se “A Cidade Incerta” e apresenta sete perfis de pobreza dominantes na cidade de Lisboa - trabalhadores pobres, desempregados, cuidadoras informais, incapacitados para o trabalho por motivos de doença, desfiliados e idosos.
 
Entretanto, a vereadora do Desenvolvimento Social, Helena Roseta, afirmou numa entrevista que a população sem-abrigo em Lisboa “está a aumentar”, ultrapassando as 2.000 pessoas. “Está a verificar-se um aumento significativo da população sem-abrigo, por razões de desorganização das suas vidas. Não tem só a ver com habitação, mas também por desemprego, problemas familiares, adições, tudo misturado”, disse a vereadora.
 
 
Texto e fotos Beco das Barrelas / D.R.

quinta-feira, maio 23, 2013

Belenzada


Pela Lei e Pela Grei, uma unidade da Guarda Nacional Republicana defende o Palácio de Belém, tendo como posto avançado as sentinelas perfiladas à porta de armas. Não são os Royal Horseguards, que atraem multidões às portas de Buckingham Palace, mas faz-se o se pode. As sentinelas mudam com aprumo militar e a unidade é rendida periodicamente com charanga, passo de ganso e mirones a tirar fotografias com os telefones.

A questão é que, ali onde o veem, o Palácio cor-de-rosa já passou por algumas aflições - não necessariamente no PREC - mas nos tempos de Dona Maria II, ela própria protagonista de um golpe palaciano, juntamente com o Duque da Terceira, destinado a restaurar a Carta Constitucional. Em sentido contrário, o Ministério Setembrista pretendia revogar a Carta e elaborar uma Constituição referendada pelas Cortes. A sublevação da Guarda Nacional levou a Rainha a demitir e substituir o Governo.

Foi então que entrou em cena Passos Manuel. Apoiando-se na Guarda e na tropa de Lisboa, o obreiro da Revolução de Setembro forçou nova substituição do Ministério. O regime Setembrista sobreviveu. Mas Manuel da Silva Passos acabou preso em Belém, às ordens de Dona Maria, por ter denunciado publicamente a intervenção de marinheiros ingleses que desembarcaram em Lisboa para alegadamente “proteger a Rainha”. A toda esta movimentação foi dado para a história a designação de Belenzada.
 

O Palácio, construído no século XVI, chamava-se Real. Mudou de nome com a República, passando em 1912 a ser residência oficial do Presidente.

E a Guarda mantém-se vigilante,
Pela Lei e Pela Grei,
contra evetuais Belenzadas.




Fotos e texto Beco das Barrelas / D.R.

terça-feira, maio 21, 2013

Em princípio era a cerveja, depois veio a cervejaria


Da fusão da Fábrica de Cerveja Leão e da Companhia Portuguesa de Cervejas nasceu no início do século XX a Fábrica de Cervejas Germânia, que veio a instalara-se em 15 mil metros quadrados de terrenos anexos à Avenida Almirante Reis, em Lisboa. Com a eclosão da I Guerra Mundial a designação Germânia passou a ser politicamente incorreta, pelo que a Fábrica mudou a designação para Portugália, mais tarde denominada Companhia Produtora de Malte e Cervejaria Portugália.


Anexo à Fábrica de Cervejas existia uma porta com um balcão onde os clientes que aguardavam o abastecimento em barris se aviavam de cervejas avulso. Mas como a cerveja pede um acompanhamento sólido, não tardaram os petiscos, mariscos e finalmente os bifes. Em 1925 foi formalmente inaugurada a Cervejaria Portugália.

A Fábrica veio a ser nacionalizada após o 25 de Abril, como toda a indústria cervejeira e mais tarde devolvida aos antigos capitalistas.
 
 
 
 
 
E foi por opção dos proprietários que a Fábrica cessou a produção e a Portugália mudou a estratégia empresarial para uma rede de restaurantes por todo o País: Almirante Reis, Cais do Sodré, Belém, Centro Colombo, Centro Vasco da Gama, Amoreiras, Oeiras Parque, Centro Alegro (Alfragide), Cascaishopping, Almada Forum, Marina de Cascais, Setúbal, Porto (Foz), Forum Algarve, NorteShopping, Coimbra, Almada (Almada Forum), Leiria, Braga e Albufeira.

Da Fábrica de Cervejas resta uma ruína industrial sem grandeza nem dignidade, degradando-se à espera de um projeto que não anda.

Fotos Beco das Barrelas / D.R.

segunda-feira, maio 20, 2013

Arte urbana alegra Lisboa

Alexi e Vladimir chegaram há oito dias de Kiev, na Ucrânia, e deixam Lisboa na sexta-feira, 24 de Maio. Eles partem mas a Praça Olegário Mariano fica mais vistosa, alegre e limpa.
Alexi e Vladimir constituem o coletivo Interesni Kazki, que se dedica a intervenções de arte urbana, e que veio a Lisboa a convite da plataforma Underdogs. O espaço para a intervenção dos pintores ucranianos, a Praça Olegário Marino, foi escolhido de parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, ao fim da Rua Pascoal de Melo, depois do cruzamento com a Avenida Almirante Reis, um canto habitualmente sujo e carregado de lixo.
 
O coletivo Interesni Kazki começou por planear a intervenção a realizar naquela parede de enormes dimensões, que se avista ao longe, por quem circula na Pascoal de Melo rumo à Almirante Reis. Depois meteram mãos à obra. Os dois artistas ucranianos são seguidores do surrealismo e antes de terminarem a sua obra não será fácil vislumbrar-lhe o alcance. Na enorme parede, perfilam-se já uma ave, que toca concertina, e um gafanhoto, que toca violino, frente a frente sob os braços de uma grande balança. Veremos. Quinta-feira ao fim do dia a pintura estará concluída.
 
Entretanto, a plataforma Underdogs tem outros projetos em marcha, dos quais o de maior relevo será a inauguração da galeria na Rua Fernando Palha, em Braço de Prata, e a atuação de dois coletivos norte-americanos, em Julho e Novembro. O balanço do ano é realizado em Dezembro, em exposição coletiva de todos os artistas que participaram nestas iniciativas.

Texto e Fotos Beco das Barrelas / D.R.

Veja também:






sábado, maio 18, 2013

Todos aos Museus, Museus para todos (no Dia dos Museus e nos outros dias)


O Dia Internacional dos Museus celebra-se este ano sob o lema Museus (Memória + Criatividade) = Mudança Social e coincide com a iniciativa Noite dos Museus. Assim, da noite para o dia, os Museus fazem duas festas em uma que segue noite fora e dura um dia inteiro.
O programa compreende iniciativas com vista a dinamizar o espaço de diversas instituições com concertos, filmes e exposições, ateliês para crianças, visitas guiadas e palestras.
O Dia Internacional dos Museus É boa oportunidade para visitar um ou mais dos 55 museus da cidade de Lisboa, muitos dos quais com entrada grátis. À saída cada visitante estará muito mais enriquecido.

O Castelo de São Jorge promove “Uma Noite no Castelo” (das 20h30 às 00h) com entrada gratuita. A animação fica a cargo dos grupos Oficio Bélico, Danças com História e Ambifalco.

O Museu da Música, localizado na estação do Metropolitano do Alto dos Moinhos, a Benfica, apresenta um concerto de Joana Bagulho a interpretar música ibérica dos séculos XVI e XVII e música portuguesa do século XXI numa das peças mais relevantes da coleção: o cravo que Joaquim José Antunes construiu em 1758.

O Museu Nacional de Arte Antiga, nas Janelas Verdes, inaugura as exposições “A Encomenda Prodigiosa – Da Patriarcal à Capela Real de São João Batista” - exposição com cerca de 200 peças, criada para evocar a "encomenda prodigiosa" artística feita pelo rei D. João V, no século XVIII. Estão também previstas visitas às outras exposições patentes, bem como uma oficina de pintura para crianças a partir dos 6 anos, intitulada “Dar forma e cor à minha árvore”.
 
O Museu do Oriente tem visitas orientadas às exposições "Do vasto e Belo Porto de Lisboa" (11h30 às 12h30), "Cartazes de Propaganda Chinesa" (15h às 16h) e "Presença Portuguesa na Ásia e Macau: Memórias a Tinta-da-China" (16h às 17h).
Pelas 21h 30m apresenta-se no Auditório do Museu a Grand Union Orchestra com o espetáculo Trading Roots – Troca de Raízes, uma viagem ao mundo de hoje através de diferentes tempos e culturas.


A coleção do Centro de Arte Moderna, da Fundação Calouste Gulbenkian, que vem sendo constituída desde o final dos anos 50, reúne os artistas mais representativos de todo Século XX Português e a maior coleção de arte moderna e contemporânea portuguesa. Para além disso, neste Dia Internacional dos Museus, o CAM abre e expõe as suas reservas.

A Casa-Museu Medeiros e Almeida, na Rua Rosa Araújo, 41, oferece quatro visitas guiadas, com a duração de 01:30 cada, com início pelas 10:00, 12:00, 16:00 e 18:00. No total há para visitar 25 salas com um acervo de mais de 2000 obras. Os visitantes poderão ainda admirar a mostra "Intromissões" de homenagem ao pintor Eduardo Nery, falecido este ano.
 

No Museu da Eletricidade estão expostas as fotografias premiadas no concurso World Press Photo de 2012.
O primeiro prémio desta edição do concurso foi atribuído a uma fotografia de um grupo de homens a transportar os cadáveres de duas crianças mortas num ataque aéreo israelita, em Gaza, captada pelo sueco Paul Hansen.
O fotógrafo português Daniel Rodrigues foi distinguido com o primeiro prémio na categoria Vida Quotidiana, com uma imagem de jovens a jogar futebol, num campo de terra na Guiné-Bissau.
 
Através do site da CML pode ter acesso ao endereço, com a localização, programação e horários de cada um dos 55 museus de Lisboa. Aqui:

 Fotos Beco das Barrelas / D.R.

quinta-feira, maio 16, 2013

Entre Copos, entre tempos

Adega do Arco do Cego


No final do século XIX, quando o Campo Pequeno era uma zona industrial - Real Fábrica de Lanifícios Francisco Metrass, fábrica de cerveja, fábrica de tijolo que abastecia a construção da Praça de Touros -, a Adega do Arco do Cego chegava a aviar
três mil operários por dia.
O Entre Copos: no passado, o burro ficava à espera,
enquanto as lavandeiras molhavam a garganta,
à entrada de Lisboa.
Era assim: nas
horas de mudanças de turno, os operários levavam as marmitas para aquecer e retribuíam o serviço bebendo e pagando o vinho da Adega. Hoje, a Estrada de Entrecampos chama-se Rua e a Adega do Arco do Cego chama-se Restaurante Entre Copos.
Pelo meio, a Adega do Arco do Cego chamou-se Parreirinha, quando o senhor Joaquim, proprietário do estabelecimento nos anos 50 do século XX, plantou a parreira que cobria a galeria iluminada pela luz do dia. Depois chamou-se 1º de Maio, porque era ali que os tipógrafos - no seu dia, o 1º de Maio, celebravam o feriado que a mais ninguém era reconhecido. Há dez anos, quando Mário Reis tomou conta do estabelecimento mudou o nome para Entre Copos: Primeiros de Maio havia outros, em especial o da Rua da Atalaia. Mário Reis era conhecido como editor - Cosmos - e livreiro - Faculdade de Letras, Arco Iris. 

Carlos, o assador
Mas no início do século XXI mudou de vida.

O Entre Copos é um restaurante de cozinha portuguesa, com uma lista vasta e variada, e de grelhados, peixe e carne. Declaração de interesses: o autor deste texto não troca por nada, em matéria de comeres, um peixe assado, só sal e brasas, depois azeite e legumes, pelo que é suspeito. Mas essa é a diferença do Entre Copos.
Andréa e Mário Reis
A montra dos peixes, à entrada do salão do restaurante, é um hino à frescura e à diversidade do que o mar nos dá.
Garoupa, à posta ou a cabeça grelhada, o cherne, idem, o rodovalho, a dourada, o robalo, as sardinhas - na época delas - o peixe-espada, os chocos, são tratados com mão de mestre por Carlos, o assador. Nas carnes distingue-se o borrego servido com arroz de coentros. Mas há  muito mais.
A lista de vinhos é bem fornecida, sem carregar nos preços, e o vinho da casa bebe-se muito bem. Sobremesas variadas. Serviço eficiente, dirigido pela mulher do Mário Reis, Andréa. Para além disso, no Entre Copos muitos dos clientes ou já se conheciam ou acabam por se conhecer e a confraternização estabelece-se com boa contribuição dos donos da casa.
E depois é aquela sensação de que a História passou, Entre Copos, entre aquelas paredes.
Entre Copos, Rua de Entrecampos, 11, ao Campo Pequeno.
Aberto todos os dias, exceto domingos ao jantar.


segunda-feira, maio 13, 2013

Oitenta e três anos de livros na Feira



No ano em que se realizou em Lisboa a primeira Feira do Livro as novidades literárias eram “O Homem que matou o diabo”, de Aquilino Ribeiro, e “A Selva”, de Ferreira de Castro. Lá de fora chegavam “O homem sem qualidades”, de Robert Musil, “Na minha morte”, de William Faulkner, “O falcão de Malta”, de Dashiell Hammett, “A excepção e a regra”, de Bertold Brecht. Do ano anterior ainda havia nos escaparates “O som e a fúria”, de Faulkner, “O adeus às armas” de Hemingway.
 

A Feira do Livro realiza-se em Lisboa desde 1930, organizada pela associação dos livreiros de Portugal, hoje APEL, inicialmente no Rossio, instalando-se depois alguns anos na Avenida da Liberdade, transitando mais tarde pela Rua Augusta e Praça do Comércio, até se fixar nos últimos anos no alto do Parque Eduardo VII.

Feira já com pavilhões, mas ainda sem livros 


A 83ª edição da Feira do Livro de Lisboa - ou seja, a Feira realizou-se todos os anos desde 1930 - decorrerá entre 23 de Maio e 10 de Junho no Parque Eduardo VII e acolhe, pela primeira vez, uma extensão da Conferência de Edimburgo, um dos mais importantes encontros de literatura a nível mundial. 
Organizada conjuntamente pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) e pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), a Feira do Livro de Lisboa inclui no seu programa mais de 600 iniciativas promovidas pelos editores e mais de uma centena de atividades, programadas pela autarquia.


Na apresentação da Feira do Livro, o presidente da APEL, João Alvim, mostrou-se confiante quanto ao êxito desta edição. "No ano passado registámos meio milhão de visitantes. Este ano queremos ultrapassar esse número", adiantou. O otimismo manifestado é também justificado com as muitas novidades programadas e com o vasto programa dedicado às famílias e às crianças.
A Feira deste ano tem, entre outras novidades, a criação de “espaços de leitura”, os serões de contos (em português e inglês), ateliês, histórias para bebés, lançamento de livros e encontros com autores.

sexta-feira, maio 10, 2013

Lisboa dos gatos


Gato que brincas na rua

 Como se fosse na cama,

 invejo a sorte que é tua

Porque nem sorte se chama.
 

Bom servo das leis fatais

 Que regem pedras e gentes

 Que tens instintos gerais

 e sentes só o que sentes.


És feliz porque és assim,

 Todo o nada que és é teu 

 Eu vejo-me e estou sem mim 

Conheço-me e não sou eu.
 
Fernando Pessoa, 1931

 
Fotos Beco das Barrelas / D.R.

quinta-feira, maio 09, 2013

Paredes de Lisboa têm memória


“A memória é um silêncio que espera”
Ana Hatherly

Na cidade de Lisboa, cerca de duas centenas de placas evocativas recordam memórias da cidade, das suas personagens, da História. Aqui nasceu… Aqui viveu… Aqui morreu… Aqui aconteceu… A memória da cidade continua viva na escrita sobre a pedra das evocações.

Na Rua do Século, uma lápide assinala o palácio onde nasceu Sebastião José de Carvalho e Melo. Uma modesta casa na Rua Almeida e Sousa, em Campo de Ourique, assinala que ali faleceu Bento de Jesus Caraça.
 

O regicídio está assinalado na esquina do antigo Terreiro do Paço, como a Revolução dos Cravos está gravada no chão do Largo do Carmo, homenageando o capitão Salgueiro Maia.
 
Na Calçada de Santana, sobre a Tasca do Beco, está perpetuado o local onde terá falecido Luís de Camões. Eça de Queiroz tem assinalado no Rossio o prédio onde iniciou a vida literária.
E Fernando Pessoa tem lápide do nascimento no Largo de São Carlos e a sua derradeira frase na frontaria do Hospital de S. Luiz dos Franceses, ali bem perto, no Bairro Alto, onde o poeta faleceu.
O poeta José Gomes Ferreira viveu no número 6 da Rua João Pereira da Rosa, que sobe da Rua do Século para a Luz Soriano, onde floresce um autêntico jardim de lápides, evocando os nomes de Ofélia Marques, Bernardo Marques, Fernanda de Castro, António Ferro, Oliveira Martins
e Ramalho Ortigão.
 
Na casa da Rua da Saudade onde faleceu o poeta José Carlos Ary dos Santos também viveu e morreu o poeta Alexandre O’Neill, com placas evocativas, uma de cada lado da porta número 23. Não muito monge, a caminho da Sé, nasceu Rómulo de Carvalho, também conhecido por António Gedeão, poeta.


Na Avenida da Liberdade, já a chegar aos Restauradores, nasceu o pintor de Lisboa Carlos Botelho.
 
“A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam.
E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa.”
José Saramago

 

terça-feira, maio 07, 2013

Autocarro turístico lançado à água


O autocarro da Hippotrip, destinado a mostrar Lisboa aos turistas, foi lançado à água na passada sexta-feira. O autocarro é anfíbio e permite passear os turistas nas ruas da cidade como nas águas do Tejo, permitindo assim ver a cidade, e o rio a partir da cidade, bem como a inversa.
Foi na Doca de Santo Amaro, em Alcântara, a inauguração do autocarro/barco, o primeiro no país a permitir fazer passeios turísticos tanto em terra como em rio. O mais complicado nem sequer foram os testes da navegabilidade do autocarro, que essa estava garantida pelo fabricante, mas a burocracia de que revestiu a licença para circular na cidade e navegar no Tejo. O veículo agora inaugurado foi comprado pela empresa em 2008.
 O autocarro-barco transporta 40 passageiros, num percurso de cidade - Cais do Sodré, Praça do Comércio, Rua da Prata, Rossio, Av. da Liberdade, Marquês de Pombal, Rato, Estrela e Belém - e de rio - Padrão dos Descobrimentos, Torre de Belém, Museu da Electricidade, Alcântara, Santos, Cais de Sodré, Ribeira nas Naus.
A viagem tem guia, em português e inglês, e o guião procura ser informativo mas informal e divertido.

Horários e condições das viagens aqui:

sexta-feira, maio 03, 2013

O Sempre em festa sempre em obras


O Ritz Clube, que reabriu há um ano, após 12 anos de encerramento e depois de uma "reabilitação total", fechou outra vez as portas.

Alegadamente, o Ritz fechou as portas "temporariamente” e “para obras". A ser assim, talvez se trate de obras para insonorização do espaço do Ritz Clube, cujos vizinhos se têm queixado com frequência do ruído produzido durante a noite. Desde que reabriu, no ano passado, o Ritz promoveu dezenas de concertos e festas. Para as próximas semanas estavam agendados quatro concertos.

Seja como for, o Ritz Clube que em tempos era conhecido na noite de Lisboa por “o sempre em festa” começa a ser chamado por “o sempre em obras”.

quinta-feira, maio 02, 2013

Via Marítima para almoço ou jantar


O que dá as boas-vindas a quem se aproxima da porta do restaurante Marítima de Xabregas, na Rua da Manutenção, número 40, são as brasas que se veem da rua e onde irão assar peixes, em particular as postas de bacalhau, e carnes, com realce para a entrecôte de novilho e os secretos de porco preto. Os peixes também se servem cozidos, as iroses fritas ou em ensopado, o bife na frigideira ou na chapa.
A Marítima é um restaurante de cozinha portuguesa, fundado em 1966, com 140 lugares em três salas, aberto até à meia-noite. Fora das horas das refeições funciona como cervejaria e ninguém resiste a petiscos como as ameijoas, berbigão e conquilhas, na respetiva estação, as gambas e a salada de polvo, os pregos, bifanas, o leitão e o presunto, os caracóis e caracoletas.
O restaurante é uma referência na zona oriental de Lisboa, com uma vasta e diversificada lista de peixes, carnes, petiscos e sobremesas, razoável carta de vinhos de preços aceitáveis, excelente e rápida cozinha, serviço eficiente e amigável.
Tem sido lugar de tertúlias e quem escreve estas linhas recorda-se de duas.
A mais remota, em Dezembro de 2004, foi o grupo alargado, em plenário ou assembleia geral, da mesa 2 do bar Procópio. Na mesa do Procópio cabiam seis à vontade e 12 habitualmente. Mas ao primeiro jantar na Marítima, em 2004, no qual nasceu o Espírito de Xabregas, por oposição à falta de espírito do Beato, eram bem mais de meia centena.
A segunda foi o Grupo Unido Inimigos da Lampreia GUIL ml, entendendo-se por ml Morte à Lampreia, Muita Lampreia, Mais Lampreia. No final de cada época - que decorre entre Fevereiro e Março -, o Grupo votava e escolhia a melhor lampreia da temporada. Em 2011 a escolha foi a lampreia da Marítima de Xabregas. Recordo-me de falar sobre o assunto com o David Lopes Ramos, quando o visitei pela primeira vez no hospital onde veio a falecer, e do grande David eleger o bacalhau assado nas brasas da Marítima com um dos melhores da cidade.

Ainda bem que há bons restaurantes com vida mais longa que certas tertúlias.
A Marítima só fecha aos sábados.

Texto e fotos Beco das Barrelas / D.R.