quinta-feira, fevereiro 28, 2013

Lisboa às Portas de Santo Antão

A Rua das Portas de Santo Antão, artéria da baixa da cidade de Lisboa, muito concorrida de dia e de noite, deve o seu nome a uma das portas de uma das muralhas que ao longo dos séculos defenderam a cidade, neste caso da Muralha ou Cerca Fernandina.
Lisboa terminava às portas de Santo Antão e a partir dali, “fora de portas”, matava-se gado, salgavam-se as carnes, amontoavam-se detritos. Também por ali existia a Cadeia do Tronco, onde esteve preso, na sequência de uma briga em defesa de amigos, Luís de Camões. Até que, integrada na cidade, a rua perdeu as portas de chapa de ferro, em definitivo, no século XVIII.

A Sociedade de Geografia lado a lado com o Coliseu
Do final do século XIX até á atualidade, a Rua das Portas de Santo Antão - que se designou Rua Eugénio dos Santos na primeira República - entregou-se ao comércio, à cultura, ao divertimento. Ali nasceram os primeiros casinos de Lisboa - o Majestic, depois Monumental, onde é hoje a Casa do Alentejo -, o Ateneu Comercial de Lisboa (1880), a Sociedade de Geografia (1875), o Coliseu dos Recreios (1890).
Antiga sede do Benfica



Numa esquina da Rua funcionou uma antiga sede, depois secretaria do Sport Lisboa e Benfica, hoje propriedade da Fundação Benfica.
A par destas atividades, a Rua das Portas de Santo Antão entrega-se à restauração - o restaurante Gambrinus é um ex-libris de Lisboa, e a cervejaria Solmar foi, e já não é, das casas mais populares da capital -, com muitos estabelecimentos para os turistas e tascas para quase todos os gostos, menos os muito apurados. Salvam-se algumas cervejarias.
Come e Bebe: Em tempos comia-se
e bebia-se por 10 escudos (5 cêntimos)
Casa do Alentejo
O Coliseu anima a Rua em tardes e noites de espetáculos. Durante muitos anos foi arena de circo, mas também de boxe e luta livre, e até praça de toiros, também foi a sala popular de ópera em Lisboa - onde atuaram, entre muitos outros, Tito Schipa, Alfredo Kraus, Tito Gobi - mais recentemente é sala de concertos. Mas é sempre uma animação na Rua quando há festa no Coliseu.
 
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Texto e fotos Beco das Barrelas / Direitos reservados.
 

terça-feira, fevereiro 26, 2013

Retrato da cidade de Lisboa



“Por dentro de Lisboa
desdobra-se Lisboa
numa outra Lisboa
em que nem só a sombra
nos empolga ou assombra
Em que a luz e a sombra
são ainda Lisboa”
David Mourão-Ferreira

Mais de 15% dos 322 mil alojamentos na capital estão vazios, segundo o "Retrato de Lisboa", a primeira publicação da Pordata que concentra informação sobre o município. Lisboa tinha, em 2011, 322.865 alojamentos familiares, dos quais 84,4% estavam ocupados


A habitação é um dos 12 indicadores utilizados no "Retrato de Lisboa", que revelou também que a capital tem 547.733 habitantes, menos um terço que em 1960. Apesar da perda de população nos últimos 50 anos, Lisboa continua a ser o concelho mais populoso do país, seguido de Sintra, com cerca de 400 mil residentes.


Quase um quarto da população é idosa (23,9%), enquanto 63,2% são pessoas em idade ativa - dos 15 aos 64 anos. O retrato mostra, ainda, uma cidade mais envelhecida que o resto do país: em 2011, os idosos representavam 19% da população em Portugal. Mais de metade da população da capital - 52% (287.859 pessoas) - é pensionista. O retrato de Lisboa elaborado pela Pordata, revela que 24 por cento da população de Lisboa tem mais de 65 anos de idade. E 36 mil idosos vivem sozinhos em Lisboa.

Os jovens, abaixo dos 15 anos, representam 12,9% da população. E por outro lado, o estudo mostra que Lisboa é uma verdadeira cidade universitária: tem 123.444 alunos do ensino superior, quase tantos que o total de estudantes no Porto, Coimbra, Braga e Aveiro. Tem ainda mais de 121 mil alunos nos restantes níveis de ensino.
A cidade dá trabalho a 229.566 pessoas.

Texto e fotos Beco das Barrelas / Direitos reservados.
 

segunda-feira, fevereiro 25, 2013

E de súbito o Alentejo árabe em Lisboa

Passeando pela Rua das Portas de Santo Antão, antiga Rua Eugénio dos Santos, entrando a porta da rua do número 58, subindo as escadas, passando a porta de vitrais, estamos de repente como que na Andaluzia mourisca, sequência natural do Alentejo de ascendência árabe. A surpreendente Casa chama-se do Alentejo e terá três, quatro séculos de história.

Remonta ao século XVII e foi o solar da família Pais de Faria, construído fora da Muralha Fernandina e às Portas de Santo Antão. Era conhecido por Palácio Alverca quando, nas primeiras décadas do século XX foi expropriado e reconstituído como um dos primeiros casinos de Lisboa: o Majestic Club, mais tarde Monumental Club. Nos anos 30 foi arrendado ao Grémio Alentejano e ali nasceu, enfim, a Casa do Alentejo. A imprensa portuguesa da época da inauguração da Casa do Alentejo escrevia: “Vêm-nos à mente as visões fantásticas das mil e uma noites”.
 
O magnífico átrio, em estilo árabe, e as salas e salões decorados com pinturas e azulejos mantiveram-se até aos nossos dias. São hoje salões e salas restaurantes, com ementa centrada na cozinha alentejana. Mas também salas de leitura, de jogos, com primoroso mobiliário "art nouveau" que vai ganhando patine e um certo ar decadente 




A Casa do Alentejo tem atividade editorial, de temas literários e da realidade alentejana, promove espetáculos, e sessões culturais. Não há nada assim no Alentejo. Mas esta é a Casa de um imaginário dos tempos que deixaram no Sul do País as casas brancas, as técnicas agrícolas, os sistemas de captação de água, os hábitos alimentares, os estilos artísticos e uma longa herança de palavras.

Texto e fotos Beco das Barrelas / Direitos reservados

sexta-feira, fevereiro 22, 2013

Diárias de Lisboa


LISBOA CIDADE DA LUZ - O jornalista Stuart Forster escreveu no jornal online do Reino Unido Uffpost Lifestyle que Lisboa é a cidade da luz e da magia em Portugal.
A luz, dizem os artistas, é fundamental para criar uma obra de arte. O céu azul que se estende sobre Lisboa, as longas horas de luz solar no Verão e o pôr-do-sol dourado são características da capital portuguesa que garantem aos turistas memórias felizes”, escreve Stuart Forster.
O jornalista percorreu Lisboa, de Ocidente a Oriente, destacando de igual a Lisboa histórica dos Jerónimos e da Torre de Belém, como a nova Lisboa do Parque das Nações. Pelo caminho faz referência ao “irreverente” Bairro Alto, a Alfama e à Sé e à cidade pela madrugada, “a altura em que a luz mágica de Lisboa volta a iluminar o céu”.
O jornalista elogia ainda a gastronomia lisboeta, de pratos "deliciosos e baratos”. E não se esquece de recomendar uma viagem no elétrico 28, que “vale mesmo a pena, sobretudo se conseguirmos um lugar à janela”.

VOLVO OCEAN RACE CONFIRMADA - Por decisão aprovada por votação na Assembleia Municipal, a regata Volvo Ocean Race voltará a escalar Lisboa nas próximas edições em 2014-2015 e em 2017-2018.
A Câmara Municipal de Lisboa e a Associação de Turismo de Lisboa vão assumir os custos de 4 milhões de euros para organizar a escala da regata em Lisboa nas próximas edições.
Lisboa estreou-se na rota da regata em 2011-2012, pela iniciativa da empresa João Lagos Sport, com apoio da Câmara Municipal de Lisboa e estatuto de interesse público nacional.
Os resultados mostraram um impacto económico na ordem de 29,2 a 34, 4 milhões de Euros, sendo 16,4 milhões em impacto direto na capital portuguesa.

LISBOA À PROVA - O concurso gastronómico Lisboa à Prova conta com 76 restaurantes finalistas, numa iniciativa da câmara municipal e da Associação de Hotelaria e Similares para promover a gastronomia lisboeta e o turismo, anunciou a organização.
O concurso é acompanhado por várias iniciativas, nomeadamente o lançamento do Roteiro Gastronómico Lisboa à Prova, um desdobrável que começará em breve a ser distribuído gratuitamente na capital.
No fim-de-semana de 23 e 24 de Março, o público poderá experimentar pratos dos restaurantes distinguidos, na "Mostra dos Premiados". Simultaneamente, decorrerá o "Lisboa à Prova com Arte", com inaugurações em galerias e museus de arte contemporânea.
 
Texto e fotos Beco das Barrelas / Direitos reservados.

Leia aqui o artigo original de Suart Foster citado atrás.

quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Salitre: Da Europa à Horta da Cêra


Edifício Jean Monet
A Rua do Salitre já foi conhecida pelos seus palácios, teatros, animatógrafos, cafés, cervejarias, divertimentos. Hoje é uma rua que desce do Rato e desagua na Avenida da Liberdade, entre a cervejaria Ribadouro e o consulado de Espanha. Ali ficava o Palácio Mayer e no Verão abria a feira de diversões de Lisboa. Depois fez-se e desfez-se o Parque Mayer, fecharam restaurantes e cervejarias, alguns mantêm-se, abriram outros, a rua é de um só sentido e o que lhe dá nome e movimento é o Centro Europeu Jean Monet, num largo adjacente ao qual foi dado o nome do antigo presidente da Comunidade Europeia.
 
Travessa da Horta da Cêra
Do mesmo lado da Rua do Salitre, mas antes do cruzamento com a rua Rodrigo da Fonseca, fica o Instituto Italiano da Cultura, instalado num palacete do século XVIII onde residiu o primeiro presidente da CML, Anselmo Braamcamp Freire. O Instituto dispõe de salas de aulas, para ensino da língua de Dante, um cinema, um teatro-estúdio, uma biblioteca e um jardim.
 
O polo oposto à imponência das instalações europeias e à beleza do Instituto Italiano da Cultura é a Travessa da Horta da Cêra, no último troço da Rua do Salitre e que desemboca na Avenida um pouco acima do Ribadouro. Lisboa parece que recua ali vários séculos. As casas, desabitadas, são de esquadria irregular, tetos baixos, águas furtadas. Lisboa já terá sido quase toda assim, com exceção dos palácios que são de todos os tempos.
Dos estabelecimentos da Rua do Salitre merecem referência três casas de restauração. Na esquina do Salitre com a Rua da Conceição da Glória, ficam As Velhas, antiga casa de pasto popular agora com uma carta de qualidade. No nº 117 da Rua do Salitre, Os Tibetanos, para quem goste dos sabores tantas vezes desconhecidos da cozinha vegetariana. O restaurante Forno Velho, no nº 42, já teve nome e melhores dias. Preferível, pelo preço e qualidade, será a despretensiosa casa de pasto Floresta do Salitre, no nº 42 D: cozinha honesta, serviço amigável, preço acessível.
E depois? Depois temos a Avenida da Liberdade, outro mundo.

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quarta-feira, fevereiro 20, 2013

A Lisboa de Afirma Pereira



Antonio Tabucchi nasceu em Itália mas casou-se com Portugal por amor. E por amor adotou a nacionalidade portuguesa e deixou que Portugal o adotasse. Nascido em Vecchiano, província de Pisa, em 1943. Licenciou-se na Universidade de Sienna com uma tese sobre "O surrealismo em Portugal". Começou por ser professor de Língua e Literatura Portuguesa na Universidade de Siena, estudou e divulgou Fernando Pessoa, casou com uma portuguesa, vivia seis meses por ano em Lisboa, com a mulher e os filhos, viajava pela Europa da Cultura, escrevia para jornais italianos e portugueses. Até que em 2004 adquiriu a nacionalidade portuguesa. Falecido em Março de 2012, está sepultado no Cemitério dos Prazeres, perto de Carlos de Oliveira e de Matilde Rosa Araújo.
O seu “testemunho” Afirma Pereira tem Lisboa como protagonista, para além do próprio Doutor Pereira, jornalista português gordo e em pré-reforma, a dirigir a página cultural do jornal Lisboa.
 
Lisboa entrelaça-se com os acontecimentos do “testemunho”, passados no tempo em que Espanha mergulhava na guerra civil. Pereira vive, segundo as primeiras referências, perto da Sé, de onde tem ainda que subir até casa. Mais tarde percebe-se que mora na Rua da Saudade, nº 22, 2º andar. Tabucchi tem um magnífico texto sobre a saudade a que já fizemos referência neste blogue


O escritório da página de Cultura do Lisboa fica, fora da redação central, na Rua Rodrigo da Fonseca, 66. E o solitário e triste Pereira frequenta a pastelaria Orquídea que, com efeito, existe na Alexandre Herculano, onde se bate com omeletas com salsa ou, estando de dieta, saladas de peixe, sempre regadas com limonadas. De uma das vezes que vai à Parede, na Linha de Cascais, a tratamento de banhos de algas, passa pelo British Bar, no Cais de Sodré, onde Aquilino Ribeiro conversa com Bernardo Marques.
O “testemunho” foi adaptado ao cinema pelo realizador Roberto Faenza, com Marcello Mastroianni no papel de Pereira.
A narrativa é feita segundo o que afirma Pereira, ou Pereira afirma, não se sabe a quem, nem em que circunstâncias. E os acontecimentos levam Pereira a convocar a sua “confederação de almas”, o que o leva a assumir-se como um homem com posição.
E Lisboa perpassa em cada página, desde a festa popular com que tudo começa, na Praça da Alegria, até que decide desandar. “Não havia tempo a perder, afirma Pereira”.


Texto e fotos Beco das Barrelas / Direitos reservados.

 
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terça-feira, fevereiro 19, 2013

A afición já não é o que era


A afición já teve certamente melhores dias em Portugal e nomeadamente em Lisboa. Mas a própria existência de uma Praça de Touros tão majestosa como é a do Campo Pequeno comprova que a afición passou por épocas de esplendor, que enchiam praças com cartéis que mereciam casa cheia.
Esse tempo já lá vai. Mudam-se os tempos, as vontades, as mentalidades, as solicitações e os programas da chamada Festa também mudaram. Espetáculo televisivo, com a televisão a impor transmissões noturnas, quando os toiros se querem às cinco da tarde, com sol. E corridas ditas à portuguesa para os turistas.
Houve tempos em que a Praça do Campo Pequeno, em Lisboa, agora com 120 anos de idade, era ponto de passagem para os maiores artistas do toureio a pé. Nos anos 40 do século passado, Manuel Rodríguez, Manolete, apresentou-se por três vezes no Campo Pequeno. E embora tenha sido inaugurada já depois do decreto do rei D. Miguel proibindo os toiros de morte em Portugal, a Praça foi cenário da “faena integral” executada por dois matadores portugueses, Manuel dos Santos, nos anos 50, e José Falcão, um mês após o 25 de Abril, na Corrida TV de 1974. Ambos saíram em ombros, pela porta grande da Praça, com a PSP à espera para lhes instaurar processos-crime.
A partir da Páscoa abre a temporada e lá teremos, nas noites das quintas-feiras, os camones aos gritos perante a emoção das pegas de caras.
Os aficionados portugueses vão a Espanha. Mas nas ruas que vão dar ao Campo Pequeno há ainda sinais vivos de quando a afición estava instalada nos arredores da Praça.


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segunda-feira, fevereiro 18, 2013

João do Grão: uma instituição!


Ainda a rua que se chama dos Correeiros dava pelo nome de Travessa da Palha - a rimar com canalha num fado cantado, como só ela sabia, por Lucília do Carmo - e já o galego João servia meia desfeita de bacalhau: salada de bacalhau desfiado com grão, temperados com azeite, vinagre, salsa e cebola. Nesses tempos, a taberna que dava cartas na Travessa da Palha era a do Friagem - referida aliás nos versos de Gabriel de Oliveira para o fado de Frederico de Brito e a voz de Maria Alice: "Cena Fadista". Mais tarde, "Foi na Travessa da Palha", cantado por Lucília: “Na taberna do Friagem // Entre muita fadistagem // Enfrentei-os sem rancor”. Fernando Farinha também cantou: “O Friagem foi talvez // A taberna mais fadista”… E Aníbal Nazaré escreveu para o teatro de revista: “Cantar o fado corrido na Taberna do Friagem”... Adiante. Nesse tempo, o galego João servia bacalhau e copos de tinto, numa das primeiras portas da rua è esquerda de quem vem da Praça da Figueira.
 
A casa chama-se há muitas décadas João do Grão. Conquistou fama, é uma instituição. João do Grão foi mesmo o título de uma revista do Parque Mayer, com António Silva, no início da década de 40 do século passado. Vem gente de outras cidades do País e de fora, sobretudo de Espanha, para se sentar à mesa do João do Grão. O bacalhau já não é prato único da casa - que serve o fiel amigo assado na brasa, cozido com grão, à Brás, à Gomes de Sá ou em açorda -, mas também iscas à portuguesa, mão de vaca com grão, cozido à portuguesa, numa lista a que não faltam os peixes do dia e as carnes mais triviais, tudo sempre servido com fartura de legumes frescos e outros acompanhamentos. A lista de vinhos é manifestamente insuficiente para tanta fartura e diversidade de peixes e carnes.
O João do Grão é bom e relativamente barato, o serviço é rápido e educado. Tem duas salas, está aberto do meio-dia às três da tarde e das seis às 10 da noite. Só fecha no dia de Natal.
Mas o Natal, como o bacalhau, é quando um homem quiser!
 
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quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Justiça recupera Boa-Hora


O Governo comprou à Câmara de Lisboa o antigo Convento da Boa-Hora, onde funcionou desde 1843 o Tribunal da Boa-Hora. O edifício, que sobreviveu ao Terramoto de 1755 apesar de danificado, esteve nas últimas décadas em vias de se transformar num hotel de charme, primeiro, posteriormente numa escola. Um movimento de cidadãos opôs-se tenazmente à primeira das intenções, recordando que a ligação do antigo convento à administração da justiça vem de longa data e de tradição muito forte. Ali funcionou o primeiro tribunal europeu sem aplicação da pena de morte.
A verdade é que já anteriormente o Tribunal da Boa-Hora fora alvo de polémica em torno da respetiva memória. O poder judicial acedeu em colocar uma lápide na 6ª Vara Criminal do Tribunal da Boa-Hora onde, antes da revolução de 25 de Abril de 1974, os presos políticos eram julgados e condenados em tribunais plenários. Mas para que o poder judicial acedesse a tal pretensão foi necessária perseverança e alguma cedência, por parte de antigos presos políticos e também de alguns novos magistrados. E, mesmo assim, para que se evocasse a existência e a extinção de tribunais plenários em Portugal, foi necessário consentir que o poder judicial participasse na redação do texto lapidar, cortando aqui, omitindo ali, reescrevendo acolá.
E foi assim que na lápide descerrada na Boa-Hora onde deveria ler-se "foram julgados inúmeros adversários e presos políticos da ditadura…", se lê apenas "foram condenados inúmeros adversários do regime". Onde se leria que "a justiça e os direitos humanos não foram dignificados nem respeitados no Tribunal Plenário", lê-se simplesmente "A justiça e os direitos humanos não foram dignificados". E onde se teria lido "O Tribunal não atuava com independência, aceitava e cobria as torturas e ilegalidades cometidas pela PIDE/DGS, limitava-se, salvo exceção, a repetir a sentença que a polícia política já tinha definido", não se lê simplesmente nada.
Mas agora, na posse definitiva do Ministério da Justiça, o antigo Convento da Boa-Hora acolherá o futuro Museu do Judiciário e o Centro de Estudos Judiciários que desde a sua criação funcionou na antiga cadeia do Limoeiro. 

terça-feira, fevereiro 12, 2013

LISBOA VISTA DO ESPAÇO

Lisboa vista do Espaço (Twitter Chris Hadfield)


O astronauta canadiano Chris Hadfield, atualmente a bordo da Estação Espacial Internacional, passou no domingo pelos céus de Lisboa e tirou uma fotografia que deixou na sua conta de Twitter.

A mais de 350 quilómetros de altitude, pode ver-se a mancha dourada de luz que representa Lisboa e as linhas ténues das duas pontes, 25 de Abril e Vasco da Gama, que ligam Lisboa à margem Sul. Na legenda da fotografia, Hadfield escreve: "Lisboa, Portugal à noite - água preta, teia intricada de cidades circundantes", referindo-se às ligações entre as duas margens do Tejo através das pontes visíveis na fotografia.
 

Chris Hadfield viaja a bordo da Estação Espacial Internacional a cerca de 5 km por segundo em órbita da Terra. A sua missão é de cinco meses e o astronauta, nos tempos livres, já chegou a compor e a gravar a primeira canção produzida no espaço.

segunda-feira, fevereiro 11, 2013

Para não dizerem que não falei de flores...

Travessa do Fala-Só

Se às vezes digo que as flores sorriem
E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
E cantos no correr dos rios...
É porque assim faço mais sentir aos homens falsos
A existência verdadeiramente real
das flores e dos rios.
Alberto Caeiro
 
 
Rua de Sâo Bento
Pobres das flores dos canteiros dos jardins regulares.
Parecem ter medo da polícia...
Mas tão boas que florescem do mesmo modo
E têm o mesmo sorriso antigo
Que tiveram para o primeiro olhar do primeiro homem
Que as viu aparecidas e lhes tocou levemente
Para ver se elas falavam... 
Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos
Alfama
Bairro Alto
 
Fotos Beco das Barrelas / Direitos reservados.

 


sexta-feira, fevereiro 08, 2013

Quando em Lisboa romperam as águas


A água da chuva desce a ladeira.
É uma água ansiosa.
Faz lagos e rios pequenos, e cheira
A terra a ditosa.
Fernando Pessoa

O aqueduto que trouxe de Belas para Lisboa, ao vale de Alcântara e à Mãe d’Água, nas Amoreiras, a água da nascente das Águas Livres, foi pensado no tempo de D. Sebastião e na dinastia dos Filipes, mas foi construído por alvará de D. João V, o Magnânimo, de 1731. Entrou em funcionamento 17 anos depois e resistiu ao Terramoto de 1755.
O sistema do Aqueduto é constituído por uma vasto e complexo conjunto de arcadas, arcos e condutas, de galerias e chafarizes que deu de beber a Lisboa ao longo de 219 anos, de 1748 até que foi desativado em 1967.
As arcadas monumentais e os arcos estão à vista e segue-se-lhes o percurso. Mas as cisternas, galerias e condutas subterrâneas constituem uma Lisboa pouco conhecida mas que vale a pena conhecer.
O Troço da Patriarcal, com uma extensão de 410 metros, faz parte da Galeria do Loreto - 2835 metros - está aberto a visitas e é um passeio magnífico.
Mergulha-se no subsolo no jardim do Príncipe Real e inicia-se a visita na cisterna octogonal transformada em espaço cultural. A visita tem um percurso bem definido mas cruza-se, por duas vezes, com outros itinerários por enquanto encerrados: o que segue para a Praça da Alegria e o que percorre a Rua do Século.
A visita é segura, muito bem conduzida e explicada por um guia do Museu da Água, e tem um final de esplendor. Ao fim de um percurso de humidade e de penumbras no subsolo de Lisboa, os visitantes desembocam no Jardim de São Pedro de Alcântara, com Lisboa aos pés e o Tejo ao fundo.

Marcação prévia. Informações no Museu da Água

Texto e fotos Beco das Barrelas / Direitos reservados.

quinta-feira, fevereiro 07, 2013

Associações pedem revogação da Lei das Rendas


A Associação dos Inquilinos Lisbonenses, a Associação das Coletividades do Concelho de Lisboa, o Grupo de Moradores de Campo de Ourique, a Comissão de Moradores da Colina da Graça, a Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas, a Inter-Reformados, o Movimento Unitário de Reformados, Pensionistas e Idosos e a União dos Sindicatos de Lisboa, são algumas das associações que hoje se concentraram ontem, às 17 horas, em frente ao Parlamento a exigir a revogação da nova lei do arrendamento.
A ministra Assunção Cristas tinha pedido calma aos inquilinos que têm sido confrontados com fortes subidas nas rendas. "Eu peço a todos os que recebem cartas [dos senhorios] que não fiquem alarmados, não entrem em pânico, e se vão informar, com recurso às associações de inquilinos que existem", disse a ministra.
Durante a manifestação, em frente ao Parlamento, inquilinos revelaram que há aumentos de rendas que chegaram já aos 600 por cento.

Outras breves de Lisboa

SOS Lisboa recebeu perto de 500 chamadas
No primeiro ano de existência, a linha S.O.S Lisboa, para acompanhamento de idosos isolados, recebeu 493 chamadas, segundo dados da autarquia.
Das 493 chamadas feitas, 381 necessitaram de atendimento técnico e em oito foram ativados meios de socorro.
Benfica e Olivais foram as freguesias com o maior número de chamadas registadas: 58 e 49 respetivamente. Seguiram-se São Domingos de Benfica (20), Alcântara (16) e Penha de França (15).
No extremo oposto encontram-se as freguesias de Socorro, São Nicolau, São Francisco Xavier, São Cristóvão e São Lourenço, Santos-o-Velho e Madalena, todas com apenas uma chamada.

Assembleia Municipal rejeita silo automóvel
A assembleia Municipal de Lisboa rejeitou na terça-feira a construção de um silo automóvel de quatro pisos no Campo das Cebolas, recusando a atribuição da gestão do espaço à Empresa Pública Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL).
O projeto do silo automóvel previa a criação de 382 lugares de estacionamento em quatro pisos, um dos quais subterrâneo, numa área de cerca de 4600 metros quadrados, com uma zona comercial e uma creche.
O espaço seria gerido pela EMEL, tal como acontece com o silo do Mercado do Chão do Loureiro, responsabilidade que motivou o voto contra dos partidos da oposição na assembleia: PPM, MPT, CDS-PP, PSD, PCP, BE e PEV.

Obra completa do Padre António Vieira: 30 volumes
A Santa Casa de Lisboa vai investir 500 mil euros na edição da Obra Completa do Padre António Vieira, composta por 30 volumes.
O projeto resulta de um protocolo entre a Santa Casa da Misericórdia e a Universidade de Lisboa e que visa a publicação da obra completa e de um dicionário sobre a literatura do pregador.
Os primeiros volumes do projeto serão dados a público nos primeiros dias do próximo mês de Abril.

 
 

Em B.Leza
Barceló de Carvalho, Bonga, vulto da canção angolana e um dos maiores embaixadores das músicas africanas, celebra 70 anos entre amigos e fãs.
Bonga no B.Leza, dia 11, 2ª feira.

 

FIL entregue à bicharada
Até ao próximo domingo o Pavilhão 4, da FIL, o Parque das Nações, fica literalmente entregue à bicharada. No total serão mais de 2.000 os animais de estimação que os visitantes poderão ver e conhecer na 2ª edição do Pet Festival, o maior salão nacional dedicado aos animais de companhia.
Com mais de 50 expositores, o Pet Festival pretende dar continuidade ao sucesso alcançado na edição de 2012, na qual recebeu a visita de mais de 22 mil pessoas. Cães, gatos, aves, peixes, répteis, roedores e cavalos poderão ser vistos na exposição.


segunda-feira, fevereiro 04, 2013

Monsanto perdeu 1500 árvores no temporal


E
E depois eu te conheço de novo numa rua isolada
minhas pernas são duas árvores floridas
os meus dedos uma plantação de sargaços
a tua figura era ao que me lembro da cor do jardim.

António Maria Lisboa

 
Cerca de 1500 árvores do Parque Florestal do Monsanto caíram devido ao temporal do dia 19 de janeiro, soube-se agora em Lisboa.
Uma centena de voluntários e doze funcionários da autarquia procederam a ações de remoção de troncos e limpeza de caminhos, depois de, na semana passada, terem dado início aos trabalhos.
A CML refere que os voluntários que pretendam ajudar podem inscrever-se através dos contactos gerais.
O Parque Florestal de Monsanto, conhecido como “o pulmão de Lisboa”, tem uma área de 1.000 hectares e foi inaugurado em 1934. No século XIX a área do Parque era constituída por searas, pastos e pedreiras. A decisão de criar o Parque Florestal foi tomada ainda no século XIX mas só foi diante nos anos a0 do século passado, inspirando-se no exemplo do Bois de Bologne, de Paris.
Para além das árvores derrubadas do Parque de Monsanto, o temporal de Janeiro atingiu diversas árvores na área urbana. 
 
Texto e Foto Beco das Barrelas / Direitos reservados