sábado, fevereiro 22, 2014

Em defesa da calçada portuguesa


Na sequência dos acontecimentos de Maio de 1968, em Paris, o poder policial-político-autárquico substituiu o pavimento do centro da cidade: os pavés (a calçada) foram soterrados em betão. E resolveu-se assim um grande problema.

Do Maio de 68 ficara uma imagem poética – como tantas outras daqueles tempos -, segundo a qual debaixo dos pavés se poderia encontrar a praia (bastava arrancar os pavés que poderiam, entretanto, ser lançados contra a polícia). O novo revestimento e a nova imagem passaram a ser muito mais duros e irremediáveis: para chegar à praia não bastaria levantar os pavés mas seria necessário, prioritariamente, remover o inamovível betão.

Parece que chegou o tempo de Lisboa remover os seus pavés – a calçada portuguesa que até há pouco era louvada como criação da cultura portuguesa exportável e universal.

Até é de crer que alguém em Lisboa esteja convencido que está a defender uma boa causa, com esta ideia peregrina de substituir parte da calçada portuguesa, pois vai assim garantir a segurança dos que já mal se equilibram nas pernas, quanto mais em calçada que cristalizou no sistema triclínico.

Mas se o poder da cidade está tão preocupado com a segurança dos munícipes que circulem na calçada, manda reparar as ruas empedradas que apresentam dificuldades à mobilidade, dando trabalho aos calceteiros, segurança às pessoas e beleza às ruas de Lisboa.

Está a correr uma petição pública contra a retirada da calçada portuguesa aprovada pela Assembleia Municipal de Lisboa. Leia, medite e se estiver de acordo assine, aqui:

 

sexta-feira, fevereiro 14, 2014

Amor Lisboa


(...) Como estão próximos os nossos ombros!
Defrontam-se e furtam-se,

negam toda a sua coragem.
De vez em quando,
esta minha mão,
que é uma espada e não defende nada,

move-se na órbita daqueles olhos,
fere-lhes a rota curta,
Poderosa e plácida.
Amor, tão chão de Amor,
que sensível és...
Sensível e violento, apaixonado.
Tão carregado de desejos! (...)

Amor, 

Irene Lisboa

quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Retrato da cidade sem-abrigo

A cidade é um chão de palavras pisadas,
poema Cidade, de José Carlos Ary dos Santos

A cidade de Lisboa contava, em Dezembro do ano passado,  852 pessoas sem-abrigo, na sua maioria homens, portugueses, solteiros e sem fontes de rendimento, segundo um levantamento cujos resultados são hoje apresentados pela Santa Casa da Misericórdia.
Na contagem, realizada a 12 de Dezembro de 2013, foram sinalizados 509 pessoas sem-abrigo na rua e 343 que dormiram em Centros de Acolhimento nessa noite.
As freguesias de Santa Maria Maior (antigas freguesias de Mártires, Sacramento, Santa Justa, São Nicolau, Madalena, Sé, Socorro, São Lourenço, São Cristóvão, Santiago, Castelo, São Miguel e Santo Estevão) e do Parque das Nações registaram a maior concentração, com 83 pessoas cada, seguidas de Santo António (Coração de Jesus, São José e São Mamede), com 64.
Segundo a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, na origem da situação de exclusão estão, na maior parte dos casos, conflitos familiares e relacionais, o desemprego e a doença física ou mental.
A grande maioria dos sem-abrigo inquiridos é homem (87%) e tem entre 35 e 54 anos (48%), seguido pelo escalão 55-64 anos (20%). A pessoa mais nova contactada tem 16 anos e a mais velha 85.
Os sem-abrigo inquiridos são maioritariamente solteiros (44,5%) e portugueses (58,4%), tendo sido registados 14,3% sem-abrigo pertencentes a outros países da União Europeia.
Quanto à educação, um terço concluiu o ensino secundário, técnico ou superior, 4,6% têm qualificações superiores e 7,7% não sabe ler nem escrever.
A grande maioria (71,8%) não tem atualmente qualquer fonte de rendimento e 68,9% recebe apoio na alimentação. Mais de 45% têm problemas de saúde.

Dos inquiridos, 54,2% dizem ter filhos, mas 36,2% não mantêm contacto em eles. Contudo, 13,8% afirmam ter contacto diário ou quase diário e 66,8% tem contactos frequentes com outros familiares.